A presença de sistemas eficientes de água potável e esgotamento sanitário vai muito além do conforto do dia a dia: é um alicerce para a dignidade humana, saúde pública e crescimento econômico de qualquer nação. No Brasil, onde milhões de pessoas ainda vivem sem acesso adequado a esses serviços essenciais, ampliar a cobertura de saneamento básico representa não só uma urgência social, mas uma oportunidade estratégica para o desenvolvimento.
De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), cerca de 35 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à água tratada, e mais de 90 milhões vivem sem coleta de esgoto. Esses números refletem desafios históricos que impactam diretamente a qualidade de vida, a economia e a saúde da população.
As doenças de veiculação hídrica continuam sendo uma das maiores ameaças em áreas desprovidas de saneamento. Diarreias, leptospirose, hepatite A e outras enfermidades relacionadas à água contaminada afetam principalmente populações vulneráveis, com destaque para crianças e idosos.
Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, para cada dólar investido em saneamento, há uma economia de cerca de quatro dólares em gastos com saúde. Ou seja, os benefícios ultrapassam o bem-estar pessoal e aliviam a pressão sobre os sistemas de saúde pública, permitindo que recursos sejam direcionados a outras áreas prioritárias.
Além disso, ambientes mais saudáveis contribuem para a melhoria da frequência escolar e da produtividade no trabalho, criando um ciclo virtuoso que beneficia toda a sociedade.
A falta de saneamento é um dos principais indicadores de desigualdade social. Comunidades periféricas, áreas rurais e assentamentos informais geralmente são os mais afetados pela ausência de acesso à água tratada e à coleta de esgoto, perpetuando ciclos de exclusão.
Ao expandir a infraestrutura de saneamento, abre-se caminho para a valorização dessas áreas, atração de investimentos, aumento da segurança sanitária e promoção da cidadania. O acesso a esses serviços básicos é uma questão de justiça social, que corrige distorções históricas e assegura dignidade para todos.
O impacto econômico do saneamento é direto e mensurável. Obras de expansão das redes de água e esgoto movimentam a construção civil, geram milhares de empregos e dinamizam cadeias produtivas locais. Além disso, regiões bem atendidas se tornam mais atraentes para instalação de indústrias, comércios e empreendimentos imobiliários.
Segundo o Instituto Trata Brasil, imóveis em áreas com saneamento completo podem se valorizar em até 16%, aumentando a arrecadação tributária dos municípios e incentivando o desenvolvimento urbano planejado.
O setor produtivo também colhe benefícios: com acesso seguro à água de qualidade e à destinação adequada de efluentes, empresas reduzem riscos ambientais e operacionais, melhorando sua competitividade no mercado interno e externo.
Os avanços tecnológicos têm permitido que os sistemas de saneamento evoluam para além da coleta e tratamento tradicionais. Soluções como o reuso da água, a geração de biogás a partir de lodo de esgoto e a automação de redes de abastecimento contribuem para a sustentabilidade e a eficiência do setor.
Essas inovações alinham as metas de saneamento básico com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente o ODS 6, que prevê água potável e saneamento para todos até 2030.
A expansão dos sistemas de água e esgoto no Brasil é um investimento que transcende as obras físicas. É uma aposta na saúde pública, na redução das desigualdades e no fortalecimento da economia nacional.
Com planejamento, investimentos consistentes e inovação tecnológica, é possível transformar o cenário atual e garantir que o saneamento deixe de ser um privilégio de poucos para se tornar um direito garantido a todos.
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Presidente do HYDRUS.
Presidiu nos últimos 25 anos empresas nacionais e internacionais de saneamento e foi membro do Comitê Executivo da Aquafed – The International Federation of Private Water, até 2018. De 2011 a 2017 foi Governador do Conselho Mundial da Água. É engenheiro civil formado pela Escola Politécnica de São Paulo.